II Simpósio Brasileiro de Construção Sustentável mostra a busca pela sustentabilidade na cadeia produtiva do setor
Temas como aquecimento global, uso de materiais sustentáveis na construção civil e eficiência energética foram debatidos no evento
Com recorde de público, a II edição do Simpósio Brasileiro de Construção Sustentável, que aconteceu dia 24 de agosto no WTC, em São Paulo, debateu as tendências para a construção civil sustentável e o que está sendo aplicado no mundo para o uso eficiente de recursos naturais. O evento é realizado pelo Conselho Brasileiro de Construção Sustentável e teve o patrocínio da Holcim, Construtora Camargo Corrêa, Braskem, ABIVIDRO, LWART, Caixa Econômica Federal, Centro Brasileiro da Construção em Aço (CBCA), Philips e WWF-Brasil, e apoio empresarial do D&D Shopping, Orsa Florestal e Ornare. Para Marcelo Takaoka, membro do Conselho do CBCS e organizador do evento, “a informação é uma arma poderosa, e é exatamente isso que o Conselho Brasileiro de Construção Sustentável, com o II Simpósio, procura desenvolver: informar o setor da construção civil, o empresariado e toda a sociedade da importância que nossos atos têm e seus reflexos em questões como mudanças climáticas, sustentabilidade e inovação em tecnologia ecoeficiente”.
A abertura do evento contou com a presença de Marcelo Takaoka, membro do Conselho do CBCS, e Eduardo Trani, chefe de Gabinete da Secretaria da Habitação. Na abertura, houve o lançamento do Relatório de Avaliação de Políticas Públicas para Redução da Emissão de Gases de Efeito Estufa em Edificações, uma iniciativa coordenada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) em parceria com a Universidade da Europa Central (CEU).
Primeiro Painel
Com o ambientalista Fábio Feldman; Rachel Biderman, coordenadora adjunta do GV/ces – Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas-SP; e Cláudio Maretti, superintendente de conservação do WWF-Brasil e Marcelo Takaoka, o primeiro painel discutiu a importância da Construção Civil nas Mudanças Climáticas. Foi apresentado um panorama geral da construção sustentável social, e como as políticas públicas podem influenciar na construção civil com projetos mais sustentáveis para a habitação social, levando em consideração o aquecimento global. As emissões do setor de construção civil serão levadas para a negociação de Copenhagen e, para Feldman, “a negociação em Copenhagen discutirá exatamente o que países como Brasil irão se comprometer a fazer em prol do movimento sustentável. Colocar metas é induzir, provocar para que possamos caminhar para uma economia de diminuição do carbono”, conta. Raquel Biderman pontuou a iniciativa das cidades, internacionalmente, em torno das ações sustentáveis que envolvem mudanças climáticas,, uma ação internacional com a adesão de mais de 700 governos municipais, entre eles o da cidade de São Paulo, uma das cidades pioneiras. “Nesse caso, os associados se comprometem a assumir planos e ações de políticas publicas para a redução dos gases de efeito estufa”, comenta Raquel. Claudio Maretti pontuou, dentro do tema proposto, as mudanças construtivas para se criar um novo paradigma climático na construção civil. Para ele, o Brasil tem que ter uma posição de líder, criando condições para inovação. “Apesar do desmatamento, não é certo dizer para não usar a madeira da Amazônia. Precisamos de, no mínimo, empregar um terço dessa nossa floresta, para manter a Amazônia como uma mente funcional que presta serviços para a humanidade e para o Brasil, inclusive na retenção do carbono. Ou seja, uma parte tem que ser protegida e outra usada de forma sustentável. E é de extrema importância que o mundo reconheça o que o Brasil esta fazendo, porque temos condições de ser líderes nesse assunto”, conclui Maretti para fechar o primeiro painel.
Segundo Painel
No segundo painel do dia, coordenado pela professora da UNICAMP e coordenadora do Comitê Temático de Avaliação de Sustentabilidade do CBCS, Vanessa Gomes, a pauta foi a Gestão e Inovação na Construção Sustentável. Participaram da mesa o diretor do Powell Center for Construction and Environment, prof. Charles J. Kibert; o sócio Sênior da Foster+Partner, Brandon Haw; o conselheiro da CBCS e professor da Poli-USP, Orestes Gonçalves; e o coordenador do Comitê Temático Materiais do CBCS e também professor da Poli-USP, Vanderley M. John.
Kilbert tratou da construção verde e da necessidade de se agir e se redesenhar um programa para a construção sustentável. A idéia é que se utilize um ecossistema integrado, com o uso do design passivo e processo que buscam o reaproveitamento máximo de todo tipo de material. “Usamos a filosofia do ‘berço ao berço’ em um sistema de reaproveitamento. A idéia é projetar pensando na vida útil daquela construção, com o propósito da reutilização de material. Já temos exemplos de uma casa modular, durável, fabricada de maneira a ser reutilizada. Usa-se 50% da energia das casas convencionais e se gasta 20% menos na construção. Ou seja, o máximo uso do projeto passivo”, conta. Para Brandon Haw, a necessidade é de se criar uma realidade sustentável, pensar em coisas práticas para a redução de CO2. Ele discute o fato de, até hoje, existir construções que nunca foram pensadas de forma sustentável, mas apenas no conforto. Para ele, criar uma cidade fantástica e desenvolver a sustentabilidade econômica, social e ambiental requer equilíbrio entre diversos setores, principalmente o privado e o público. “Hoje, ao projetarmos uma cidade, temos que planejar onde as pessoas gostariam de estar futuramente e como elas poderiam se integrar ao meio ambiente. Com isso, pensamos principalmente em sistemas ambientais que vão desde a direção do vento ate saber onde contemplar o nascer e o por do sol”, comenta. Orestes Gonçalves trouxe o uso de água nas cidades e nos edifícios. “Mais do que a necessidade de reduzir o consumo ou a obtenção desse bem, é necessária uma gestão do consumo de água, com estratégias e dimensões desse uso. É uma questão que tem que ser encaixada numa visão sistêmica não apenas em um único edifício, mas sim relacionando o sistema público e o sistema predial de distribuição de água”, comenta. Encerrando o painel, Vanderley M. John cria um panorama das possibilidades de melhorias, como analisar ciclos de vida, instituir métricas, incentivar o uso de madeira industrializada, selecionar fornecedores pensando no impacto na natureza, entre outras ações mais sustentáveis. “Sabemos que a construção financia muitos impactos naturais, o desmatamento, por exemplo, mas a construção social precisa crescer. Precisamos acabar com as favelas, criar estradas e tudo depende da construção civil. Por isso, para sobreviver será necessário inovar. Mas fica a questão: como a gente muda um setor que tem sido um dos mais resistentes na inovação?”, finaliza John.
Terceiro Painel
O terceiro painel tratou do assunto eficiência energética. O tema foi Inovação e Soluções em Eficiência Energética, coordenado pelo engenheiro elétrico e presidente do Comitê Gestor de Indicadores e Níveis de Eficiência Energética (CGIEE) e membro da Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Energético do MME, Paulo Leonelli. Para compor a mesa, estiveram presentes o professor do Laboratório de Energia Solar (LABSOLAR) e do Laboratório de Eficiência Energética em Edificações, (LabEEE), da Universidade de Santa Catarina, Ricardo Rutter; engenheiro civil e membro fundador e secretário da Associação Nacional para Simulação de Desempenho de Edificações (IBPSA-Brasil), Fernando Simon Westphal; e o diretor sênior de Energia e Mudança Climática da Philips Lighting, Harry Verhaar e Maria Salete Weber, da Secretaria do Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H).
Leonelli abriu a discussão falando sobre a Etiquetagem de Edificações que regulamenta edifícios públicos, comerciais e de serviços - a Etiqueta Nacional de Conservação de Energia (ENCE) o âmbito do programa Procel Edifica, como forma de mostrar a curva de eficiência atual e orientar quanto ao uso correto da solução energética. Já Ruther mostrou o uso da tecnologia fotovoltaica no Brasil, levantando algumas questões técnicas e de gerenciamento dessa fonte. “Hoje, quase 40% do consumo de energia está associado às edificações. Levando em conta que 80% da população brasileira vive na cidade, viabilizar o sistema fotovoltaico em edificações urbanas conectados à rede elétrica pública, em um futuro próximo, terá o custo do que se gasta hoje com uma concessionária de energia”, afirma. Para ele, o potencial da geração fotovoltaica integrada a edificações e conectada a rede elétrica do Brasil depende de um programa junto ao governo a ser desenvolvido em todo o país.
Westphal falou sobre conforto térmico e luz natural em edifícios e escritórios, considerando questões de sustentabilidade e eficiência energética e a demanda do mercado hoje, que exige um visual externo muito forte e soluções para edificações já concebidas. Uma boa simulação computacional que apresenta as intervenções que serão feitas em relação aos gastos que serão efetuados é de extrema importância, principalmente por conta da busca pelas certificações e etiquetagens. “O mercado passa por um momento de reflexão. Nosso desafio é atender as necessidades do mercado com um bom desempenho térmico e energético. Para isso, iremos utilizar equipamentos e arquiteturas de alta eficiência como orientação solar e aberturas no edifício, materiais modernos de isolamento térmico, iluminação e refrigeração, qualidade nas instalações e sistema inovadores”, concluiu Westphal. Fechando o painel, Ver Haar concluiu com uma visão geral dos impactos causados com as medidas que devem ser tomadas. Para isso, apresentou o relatório do programa EEB – Energy Eficiency in Buildings, desenvolvido no âmbito do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD). “Temos desafios para vencer, a economia em conjunto com o meio ambiente. É necessário que o mercado pense como é trabalhada a relação do uso de energia em nossos edifícios. Alguns desafios devem ser levados em conta, como aumentar o conhecimento e importância desse impacto ambiental, para que todos saibam do valor de um bom trabalho; ter mais políticas públicas para que as transformações sejam rápidas e investimentos nos edifícios de maior potencial de baixa CO2”, concluiu.
Quarto Painel
No último painel do dia, o tema tratado foi sobre ‘Os Desafios da Sociedade frente as Mudanças Climáticas’. Coordenado pela diretora regional do ICLEI e arquiteta Laura Valente, a discussão se iniciou com breve apresentação das atividades realizadas pelo ICLEI. Participaram da mesa o vice-presidente executivo do Instituto Ethos, Paulo Itacarambi, e o coordenador dos Programas de Trabalho Decente e Empregos Verdes da Organização Internacional do Trabalho (OIT/Brasil), Paulo Muçouçah.
Levando em consideração as propostas estratégicas para a atuação das empresas nos próximos 10 anos, Itacarambi sugestionou o grande esforço que a sociedade brasileira precisa fazer para enfrentar as ameaças ambientais. As análises mostram que o custo futuro para enfrentar os efeitos das emissões de poluentes é bem maior do que os custos dos esforços hoje para se evitar essas conseqüências. “É urgente mudar o parque de produção atual, o que significa esforços e um grande investimento nos empregos verdes”. Itacarambi também destaca a necessidade das mudanças de padrões. “Ter uma vida digna, mas mudar os modelos de consumo, principalmente em relação ao meio ambiente e a sociedade”, conclui. Encerrando o evento, Mouçouçah discursou sobre os empregos verdes e a transformação do perfil dos empregos no mundo. Um assunto que, segundo ele, já ganhou a mídia e que tem um grande potencial para contribuir na busca por um mundo mais sustentável. “Empregos verdes são os que reduzem o impacto ambiental das empresas e nos setores econômicos a níveis sustentáveis. São os empregos que realizam um resultado positivo para o mercado da sustentabilidade. Trabalhamos em prol de um bem para a humanidade diminuindo impactos no planeta”, conta. Investir em capacitação profissional; formar gente capaz de utilizar essas novas tecnologias como projetistas e instaladores de energia solar, por exemplo. “É a transformação das economias, dos ambientes de trabalho e dos mercados laborais rumo a uma reserva sustentável que proporciona meios de sobrevivência com baixas emissões de carbono”.
A próxima edição do Simpósio Brasileiro de Construção Sustentável acontecerá em 2010. Para mais informações sobre o Simpósio e acesso ao material desenvolvido para o evento (manuais e apresentações) acesse o site www.cbcs.org.br.